quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Fulana

Fulana

“Silêncio, porra!”

Um: – Não enche o saco! Esse cara é um saco, a gente não pode nem conversar. Saco.

Outro: – Saco.

Um: – Você viu Fulana?

Outro: – Quem?

Um: – Fulana de tal.

Outro: – Ah, Fulana. Não, não vi não.

Um: – Não viu. E Cicrano?

Outro: – Quem? Cicrano de tal?

Um: – Ah, Cicrano. Não, não vi não.

Outro: – Não viu. Mas onde é que você estava?

Um: – Estava aqui, com você.

Outro: – Sim. Mas e antes?

Um: – Antes do quê.

Outro: – Antes de estar aqui.

Um: – Ah, antes. Não sei, não lembro.

Outro: – Eu vi você entrar ainda há pouco, aqui da minha janela.

Um: – Viu?

Outro: – Vi.

Um: – Ah, sim.

Um: – Pensei que você estava com Fulana.

Outro: – Quem?

Um: – Fulana, fulana de tal.

Outro: – Ah, Fulana. Não.

“Silêncio aí em baixo, porra!!”

Um: – Silêncio o caralho!!

“O quê?!?!”

Um: – Silêncio o caralho, porra!!

“O caralho o caralho. Eu é que digo porra!”

Um: – Esse cara é um saco.

Outro: – Um fresco.

Um: – Onde a gente estava mesmo?

Outro: – Quando?

Um: – Na conversa.

Outro: – Que conversa?

Um: – A de agora.

Outro: – Ah, a de agora. Não lembro.

Um: – Tá, então tchau. Eu te chamo de novo quando lembrar.

Outro: – Lembrar do que?

Um: – Da conversa.

Outro: – De agora?

Um: – Sim, de agora. Ah, lembrei. A gente ia falar de Fulana.

Outro: – De tal?

Um: – É.

Outro: – Então?

Um: – Então o quê?

Outro: – O que tem Fulana?

Um: – Não sei, não a vi. Pensei que você tinha visto. Mas pelo visto não viu. Não foi?

Outro: – Foi o quê?

Um: – Você não viu Fulana, ou viu?

Outro: – Quando?

Um: – Hoje, antes de vir pra cá.

Outro: – Não.

Um: – E antes.

Outro: – Não.

Um: – Você já viu Fulana?

Outro: – Quando?

Um: – Na vida.

Outro: – Já.

Um: – Quando?

Outro: – Na vida.

Um: – Na vida quando?

Outro: – Não sei.

Um: – Mas já viu.

Outro: – Já.

“Psssiiiiuuuu!!! Porra!!”

Um: – Lá vem o saco.

Outro: – O fresco.

Um: – Não enche o saco!!

Um: – Mas voltando...

Outro: – De onde?

Um: – Pra conversa

Outro: – Ah.

Um: – Você conhece a Fulana, mas não lembra de quando.

Outro: – É.

Um: – E você gosta dela?

Outro: – Gosto.

Um: – Gosta como?

Como como?

Um: – Como você gosta dela?

Outro: – Gosto dela gostando.

Um: – Pra fuder?

Outro: – O quê?

Um: – A Fulana.

Outro: – Fuder a Fulana ou fuder com a Fulana?

Um: – Qual a diferença?

Outro: – A ou com.

Um: – E faz diferença?

Outro: – Nenhuma.

Um: – E então?

Outro: – Então o quê?

Um: – Você gosta dela pra fuder ou para falar?

Outro: – Não sei.

Um: – Como não?

Outro: – Nunca fodi nem falei.

Um: – Como não?

Outro: – Não.

Um: – Mas queria.

Outro: – O que?

Um: – Falar ou foder.

Outro: – Qual dos dois?

Um: – Pergunto eu.

Outro: – Foder, acho.

Um: – Ah, sei.

Outro: – Sabe o que?

Um: – Nada.

“Calem a boca!!!!”

Um: – Cala você, seu filho da puta!! Vai se foder!!

Um: – O cara é um puta dum saco.

Outro: – E fresco.

Um: – A Fulana deve ser uma puta foda.

Outro: – Puta o que?

Um: – Foda.

Outro: – Puta por que?

Um: – Puta não, puta foda.

Outro: – Puta, então.

Um: – Não, porra, puta foda, não puta.

Outro: – Ah bom.

Um: – É.

Outro: – Então?

Um: – Foi o que eu disse.

Outro: – O quê?

Um: – Que ela fode bem, acho.

Outro: – Acha por que?

Um: – Porque parece.

Outro: – O quê?

Um: – Que ela fode bem.

Outro: – Com quem?

Um: – Com qualquer um.

Outro: – Tipo puta?

Um: – Não, tipo que dá uma puta foda, porra!

Outro: – E puta, não dá?

Um: – Depende.

Outro: – De que?

Um: – Da puta.

Outro: – Ah. Claro, depende da puta.

“Silêncio seus filhos da Puta!!! Silêncio!!!”

Um: – O cara é um saco e ainda ouve a conversa.

Outro: – Se não ouvisse não reclamava.

Um: – Não enche o saco, seu porra!!!

Outro: – Um fresco.

Um: – Deixa ele pra lá.

Outro: – Pra onde?

Um: – Lá pra cima, na casa dele.

Outro: – Mas lá ele escuta e reclama.

Um: – Verdade, melhor ele sair.

Outro: – Pra onde?

Um: – Sei lá.

Outro: – Pra rua?

Um: – É, pra rua.

Outro: – E se a gente saísse e não ele?

Um: – Pra onde?

Outro: – Pra rua.

Um: – Pra que?

Outro: – Pra ele não encher o saco.

Um: – O nosso?

Outro: – É, o nosso.

Um: – É, pode ser.

Um: – Então vamos.

Outro: – Pra rua?

Um: – É.

Outro: – Mas o que a gente vai fazer na rua?

Um: – Conversar.

Outro: – Sobre o que?

Um: – Sobre isso.

Outro: – Isso o quê?

Um: – O que era mesmo?

Outro: – O quê?

Um: – Isso.

Outro: – Isso o quê?

Um: – A conversa.

Outro: – Não lembro.

Um: – Fulana!

Outro: – Fulana quem?

Um: – De tal.

Outro: – Ah, sim.

Um: – Eu queria foder a Fulana.

Outro: – Na rua?

Um: – Não, em casa.

Outro: – Qual casa?

Um: – Na minha.

Outro: – Aí, na sua?

Um: – É, aqui, na minha.

Outro: – Será?

Um: – Será o que?

Outro: – Que dá pé?

Um: – Não sei, talvez.

Outro: – Sei não.

Um: – Por quê?

Outro: – Em casa é foda.

Um: – É foda?

Outro: – É.

Um: – E na rua, era uma boa?

Outro: – Boa o que?

Um: – Foda.

Outro: – Com quem?

Um: – Fulana.

Outro: – Na rua?

Um: – É.

Outro: – Com Fulana?

Um: – É.

Outro: – De tal?

Um: – É.

Outro: – Sei não.

Um: – Por quê?

Outro: – Fulana é foda.

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